23 fevereiro 2007

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. […]
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro […]
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. […]
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, […] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…"
Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.


Um século depois, uma Pátria que nada muda!

(recebido por email)

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Guerra Junqueiro (1850-1923) Poeta

É o mais típico representante da chamada Escola Nova. Poeta panfletário, as suas poesias ajudaram a criar o ambiente revolucionário que conduzirá à República. Talvez o poeta mais popular da sua época, embora hoje se lhe reconheçam contradições e efeitos fáceis. Mas não deve esquecer-se o que há de original e poderoso na sua obra: o extraordinário sentido de caricatura, uma capacidade quase primitiva de exprimir as ideias em símbolos vivos e, ainda, a riqueza verbal e de imagens com que contribuiu para a renovação do verso português.

23/2/07 21:52  
Anonymous Anónimo said...

Olá Amigo,
Voltei!!!!!!!!!!!!!! Que saudades...acredistas que durante 3 dias não vi televisão,não mexi num computador, não falei ( palavra de escuteira) não......, naõ......E vê- la , sobrevivi.....( os outros "não" é para tu utilizares a tua imaginação!!!!!!!!!ahahahahahah
Bom por pouco, quase me reconhecia nessa bela foto!ahahahahahaha Mas, depois olhei com atenção soltei um suspiro e disse ..."Arre que não sou eu!""ahahahahaha oita ainda não fui ao correio! Desculpa
silvana ramos sapage.

27/2/07 08:42  
Blogger lami said...

Também mais ou menos há um século o Eça escrevia sobre a Pátria comentários que hoje seriam perfeitamente actuais.
Será que este país sempre assim foi e a crise é o seu estado natural? Talvez, como diria o Eça, na verdade, "esta choldra é ingovernável"

27/2/07 21:02  
Anonymous Anónimo said...

olá Gil
Vou falar sobre o burro,contar
uma pequena história...
Irritado com os alunos, o professor lança um desafio.
-Quem se considerar burro, faça o favor de ficar em pé.
Todos se manteem sentados,até que o melhor aluno da aula decide levantar-se.
- Então quer dizer que voçê se acha burro?pergunta o prof indignado.
-Bem,para dizer a verdade, não.Mas fiquei com pena de ver o senhor aí em pé sózinho.
Lá diz o ditado..."Os homens entendem-se pelas palavras os burros pelos coices."
silvana ramos sapage srs
( podes sempre apagar , se não te fez pelo menos sorrir)
Adeus .srs

2/3/07 16:00  

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