25 abril 2007

Violinista célebre tocou no metro e foi ignorado



Numa experiência inédita, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas do Mundo, tocou incógnito durante 45 minutos, numa estação de metro de Washington, de manhã, em hora de ponta, despertando pouca ou nenhuma atenção. A provocatória iniciativa foi da responsabilidade do jornal "Washington Post", que pretendeu lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém reparou também que o violinista tocava com um Stradivarius de 1713 - que vale 3,5 milhões de dólares. Três dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares, mas na estação de metro foi ostensivamente ignorado pela maioria.
A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o jornal, indicará que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós. "Foi estranho ser ignorado".
Bell, que é uma espécie de 'sex symbol' da clássica, vestido de jeans, t-shirt e boné de basebol, interpretou "Chaconne", de Bach, que é, na sua opinião, "uma das maiores peças musicais de sempre, mas também um dos grandes sucessos da história". Executou ainda "Ave Maria", de Schubert, e "Estrellita", de Manuel Ponce - mas a indiferença foi quase total. Esse facto, aparentemente, não impressionou os utentes do metro. "Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado ao aplauso. "Num concerto, fico irritado se alguém tosse ou se um telemóvel toca. Mas no metro as minhas expectativas diminuíram. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou.
O sucedido motiva o debate: foi este um caso de "pérolas a porcos"? É a beleza um facto objectivo que se pode medir ou tão-só uma opinião? Mark Leitahuse, director da Galeria Nacional de Arte, não se surpreende: "A arte tem de estar em contexto". E dá um exemplo: "Se tirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém a notará". Para outros, como o escritor John Lane, a experiência indica a "perda da capacidade de se apreciar a beleza". O escritor disse ao "Washington Post" que isto não significa que "as pessoas não tenham a capacidade de compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante".
(este artigo prende-se com o vídeo seguinte, que não posso deixar de partilhar)

5 Comments:

Blogger Carolina said...

Já tinha ouvido falar deste caso na Televisão ou na Rádio.
Muito interessante e digno de apurado estudo!

25/4/07 18:33  
Blogger lami said...

Faz-nos pensar realmente o que faz mover este mundo das Artes.Somos muitas vezes "carneirinhos" não valorizamos porque sim, mas porque nos dizem que é precioso!

25/4/07 18:44  
Anonymous Anónimo said...

Olá Gil
Penso que para tudo há um tempo, para cada coisa um momento....
Até para ouvirmos um qualquer músico numa qualquer estação de metro, precisamos do tempo.....
silvana ramos sapage

26/4/07 11:23  
Blogger António Gil said...

Não concordo contigo, Silvana. Se alguém em algum sítio, e não importa onde nem quando, tocar algo de que eu goste, certamente despertará em mim pelo menos a curiosidade para olhar para o sítio de onde sai esse som. E se gostar, pelo menos é assim que sinto, tanto me faz que a pessoa seja famosa ou não. E não acredito que na mole humana que certamente terá passado frente ao músico, não houvesse uns quantos verdadeiros apreciadores da música que tocava.
Por alguma razão as crianças eram as únicas que davam por ele! Acho que é mais como a Laura diz: neste aspecto, como em tantos outros, somos levados a consumir determinado produto, porque somos condicionados a fazê-lo pela publicidade que nos chega. E as crianças ainda não teriam sido contaminadas por ela. E daí repararem na música e no músico.

27/4/07 21:41  
Anonymous Anónimo said...

Olá Amigo Gil
Ainda bem que não gostamos todos do "amarelito" eu cá gosto do vermelho sou "benfiquista" ahahaha
Tolerância, não me acredito que não conheças a palavrita meu sábio amigo......Até que enfim , me respondeste, até pensei que estavas zangadito as " aparências iludem" onde é que eu ouvi isto?????E voltando ao assunto ( sou mesmo chata) poderam afirmar que só as crianças ouviram ? E os papas que tiveram que segura-las,... lindas crianças, que conseguem fazer alguém parar ....não achas????beijos silvana ramos sapage

28/4/07 08:32  

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