Enquanto os ébrios viverem...
(Para minha Mãe, Angolana, falecida em Dezembro de 1992)
Mãe...
Do mais medonho dos sonhos,
Do mais medonho dos sonhos,
Acabei de despertar,
Vi nossa Terra morrendo,
Milhares de Mães a chorar.
Seus Filhos, foram para a guerra!
-
-
Se voltam? quem vai saber...
Enquanto outros, felizes,
Passam noites a beber.
Bebendo a sorte e a vida,
Dos que não fazem fortuna...
Bebendo para esquecer,
As crianças, que de fome,
Morrem, em qualquer esquina.
-
Suas camas são as praias.
As estrelas são seus tectos,
As mesas são Contentores,
Que os alimentam de restos.
Restos daqueles que bebem,
Indiferentes à dor.
E em seus Ninhos de Luxo...
Fingem não ouvir gemidos,
Das gentes da mesma côr.
-
Mãe...
Do mais medonho dos sonhos,
Acabei de despertar,
Vi nossa Terra morrendo,
Milhares de Mães a chorar.
-
Filhos a pedirem pão.
Netos a pedirem pão.
Velhos a pedirem pão.
No rosto daquelas Mães,
Vi a tristeza estampada,
Quando filhos pedem pão,
Elas estendem as mãos,
E oferecem-lhes mãos cheias,
De carinho, sem mais nada.
E lá ficam a definhar...
Com os corpos a definhar.
Com as almas a definhar.
Com as Mães a definhar.
Quase nuas de pobreza,
Com os ventres a inchar,
Mas com a revolta hidratada
Com lágrimas de tristeza.
-
Mãe...
Do mais medonho dos sonhos,
Acabei de despertar.
Vi nossa terra morrendo,
Milhares de Mães a chorar.
-
A verem carros de Luxo,
Muito bem refrigerados,
Circulando nas cidades,
Sempre com vidros fechados,
Ébrios no seu interior,
Alheios à aflição,
Dos que perderam as pernas,
Dos que perderam os braços,
Dos que perderam os Pais.
Dos que perderam irmãos.
Mas um dia, irão talvez
Sentir o ódio das Mães,
Mães que perderam o tecto.
-
Mães que perderam o pão.
Mães que perderam os filhos.
Mães que perderam a vez...
-
Ébrios, com lindas mulheres,
Desfilando entre a miséria,
Longas tranças multi-côr,
Deslumbrantes "St.-Laurent",
Lindos Brilhos de "Dior",
Saltos - altos de "Kenzo",
Acabados a verniz,
Exibindo Belos Corpos,
Que os ébrios, Ricamente,
Enfeitaram, com a fome daquele povo,
No "prêt-à-porter" de Paris.
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Mãe...
Se com Deus puderes falar,
Pede a "Ele" para os matar,
Enquanto os ébrios viverem...
As "malambas" não vão mudar,
Disso, eu tenho a certeza.
Se com Deus puderes falar,
Pede a "Ele" para os matar,
Que "ele" os mata concerteza.
-
(Olimpio C. Neves, Lisboa, Portugal)
1 Comments:
Sr. António Gil Encontrei por acaso o seu blogge e achei curioso encontrar aqui uns versos que escrevi para minha em 1996. Se aqui os trancreveu é porque de alguma maneira lhe tocaram. Terei muito gosto em enviar-lhe um ficheiro MP3 com os nesmos verso ditos por mim e sonorizados por um irmão meu.
Irei tentar encontrar no Blogge o seu E-mail para lho enviar.
ocn@netcabo.pt este é o meu.
Um abraço
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