09 dezembro 2006

CORAÇÃO DE MENINO MIMADO




Este texto não tem poesia alguma, não tem devaneios e talvez contenha poucas reflexões. Porque vou contar algo que me aconteceu ontem. É assim que me curo, falando das minhas feridas, deixando-as sangrar pelos meus próprios dedos.
Ontem era o dia do meu rodízio (em São Paulo a polícia de trânsito restringe a circulação de automóveis numa determinada área da cidade de acordo com a matrícula; em determinados dias da semana, por exemplo, carros com matrículas que terminem em 1 e 2 estão proibidos de circular às segundas-feiras no período das 8 ás 10 e das 17 às 20) e fiquei a passar tempo por perto do meu local de trabalho. Aproveitei para ir à locadora escolher alguns filmes e depois fui ao banco fazer pagamentos. Escolhi um banco que ficava em caminho para ir embora.
Que eu saiba, conscientemente não queria encontrar ninguém. Porém imagino que o meu inconsciente queria. E a caminho do banco encontrei alguém; primeiro o carro era familiar, mas eu não queria acreditar que era quem eu estava a pensar. Mas era.
Fiquei até com vergonha de me aproximar, acho que com medo também, porque a minha reacção é sempre desmedida e desatinada. Ela era Alguém que eu magoei profundamente.
Alguém que traí e a quem não tratei dignamente. Alguém que me amava muito. E essa é hoje a marca mais profunda na minha alma. O capítulo mais triste da minha vida até agora.
Por isso estou a chamar ao meu coração de “coração de menino mimado”. Porque eu não posso querer certas coisas na vida, não tenho esse direito, nem devo imaginar que tudo vai acontecer de acordo com a minha vontade. Nós magoamos as pessoas e recebemos, em contrapartida, muita dor; comigo pelo menos é assim. Mas é importante saber viver dentro deste cenário. Saber aceitar as consequências dos nossos actos. Pago o preço e conto ao mundo, quem sabe as pessoas sabendo não vão cometer o mesmo erro que cometi.
Ela seguiu o caminho dela com o seu carro e eu, dominando o meu coração mimado, chorei. Fui ao banco e fiz o que tinha a fazer, as pernas ainda trémulas. E a caminho do carro eu ainda a vi mais uma vez, ela tinha que passar pela mesma rua de novo. Imagino que me tenha visto, ou talvez não...
Ela está bem, já disse outro dia por e-mail que está feliz, e pediu para não deixar mais poemas na sua caixa de correio. Em tempos de modernidade e mensagens virtuais eu queria sempre deixar na caixa de correio do portão da casa dela os meus pensamentos. E agora penso naquela música da Adriana Calcanhoto: “Quero que sejas bem feliz junto do teu outro rapaz”. Não se pode voltar atrás, mas o destino insiste em pregar partidas ao meu coração de menino mimado (pena eu estar tão racional e acreditar que tudo isto é uma coincidência).
S onho com o futuro, mas sei que o futuro é uma ilusão, que será sempre diferente do que imagino. Presentemente, aplico as grandes lições que aprendi com essa a quem chamo “Pastora de Nuvens”. Por isso o meu coração de menino mimado a cada dia que passa está a ser substituído por um coração de verdade. É um transplante de um coração mimado por um coração dourado (prometi que não haveria poesia neste texto, mas não resisti).
Sei que ela já não lê o que escrevo, mas se lesse eu diria:
“Obrigado por teres feito de mim um homem de verdade e perdoa-me por te ter magoado. Graças a Deus o amor colocou na tua vida alguém que te vai curar as feridas que te causei. E se por acaso o destino não me pregar mais partidas, como a de te encontrar novamente “sem querer”( esta já foi a segunda vez) , sabe que sempre, mas sempre, me vou lembrar de ti e de todo amor que tu me deste...

(Passado para português europeu por A.Gil)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olha André, cá chamamos rodízio a outra coisa!
E no Deixa-o-Resto, no restaurante "Capote" come-se um(rodízio) muito bom.
Desculpa lá o pouco romantismo da resposta, mas para curar desamores nada como uns "secretos" de porco pretona brasa. Quem diz secretos diz: plumas, febras, entrecosto,costeletas, etc.

10/12/06 17:22  
Anonymous Anónimo said...

Maryl, sabe que ao lado desse "Capote" há uma tasquinha onde se come um delicioso ensopado de enguias?
Óptima receita também para curar mal de amores.Leve lá esse André e peça um jarro de tinto da região.
Verá!Até o coração mimado lhe entra em arritmia!

10/12/06 23:15  

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