13 novembro 2007

A Esperança é a ultima a morrer!


Exma. Senhora Ministra da Educação
Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente. Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA! Sim, a minha nova categoria, Professora! Que Querida! Obrigada! E o que é que fui até agora? Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida. Ensinar a brincar, impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor.
Aplicar tudo isto na vida quotidiana. Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu queria ensinar! Era nova, tinha sonhos... O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a encaminhá-lo para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei orgulhosa! Agora, peço-te desculpa Mano, como me arrependo de te ter metido nisto, estou envergonhada! Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz. Saía de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre sonhara, para ensinar como tinha aprendido!
Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir 35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro para educar os meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as regras a meio (coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenho outro remédio: entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles. Agora que me intitula PROFESSORA, eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não chego, sequer a vestir-lhes os coletes. Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar que enquanto um 'burro' mais velho fala os outros devem, pelo menos nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão. E aqueles que se recusam a deitá-la fora porque ainda não perdeu o sabor? (Coitados, afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam banho? E os que roubam ou agridem os colegas no balneário? Falta disciplinar? Desculpe, não marco ! O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (e quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga? Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu tempo não lhe fez bem o estalo na hora certa? Desculpe mas não me parece! Pois eu agradeço todos os que levei! Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda a certeza, o seu caso. Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC. Uma hora! E eu não precisava de ter escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma. Como a médica de família ,que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha - outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa professora como era antes de mo chamar! Lamento profundamente a verdade!
Viana do Castelo
Ana Luísa Esperança

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E a sorte desta prof, é ainda ter "Esperança",pelo menos no nome....
Quando eu tiver um mano,vai-se chamar Herrare,porque Herrare é o mano. beijos amigo silvana sapage

14/11/07 07:15  
Anonymous Anónimo said...

Que linda carta à Ministra, temos que ter ESPERANÇA, o país cada vez pior e com esses Ministros a dizerem cada coisa, um grande beijo à ANA LUISA ESPERANÇA,todas as pessoas fossem como ela a dizer as verdades.

15/11/07 20:47  
Blogger lami said...

Demasiada polémica e demasiada insatisfação não me parecem ser o que a Educação precisa!
É urgente conquistar as escolas e os professores para as tarefas dificeis de ensinar e educar. Não deste modo...

15/11/07 22:13  
Blogger Jelicopedres said...

Sérias, muito sérias as palavras, que nos deixam a meditar!...
(quanto à música... de rir até ás lágrimas)
Um beijinho para a autora.
Outro para o Gil.

17/11/07 11:30  
Blogger arlete said...

Ha Esperanca, sempre.
que se faca algo para que tudo corra melhor,afinal ha imaginacao e o desabafo da carta ate tira o stress
mesmo a mascar pastilha ilastica...

18/11/07 02:38  
Anonymous Anónimo said...

Ainda não comentei porque penso fazê-lo nas sardinheiras.Não sou tão radical e penso que nem tudo piorou...(será porque estou aposentada?) Não no meu tempo também havia coisas muito más e algumas delas estão a ser ou (a tentar-se) que sejam corrigidas.

20/11/07 14:10  
Anonymous Anónimo said...

Muito bem li todos os comentários e não posso deixar de dar razão à Carolina, vamos esperar mais algum tempo !!!

26/11/07 21:10  

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